2 de setembro de 2020

 GAVETAS 


Das gavetas da vida 

Algumas não abro mais 

Outras até remexo 

há as que esqueço 

Em cada arrumação 

Recordação e muita história

Poeira e mofo fazem parte

Flagrando aquilo que já não cabe

Há que se abrir espaço 

Prisma bom e coisa boa

A cada gaveta limpa

Nova escrita, branca folha 

Tempo senhor da vida 

Aja sobre as gavetas 

Guie pra estrada certa 

Faça e aconteça 


Paulo Flores

 MAPA 


Em seu corpo fiz um mapa 

Tracei plano

Várias rotas 

Vi fronteiras e muito mais 

Vi de perto, ali de bruços 

Reta, traços,curvas 

numa beleza toda sua

Começando a viagem 

Fui pelo sul

Lambi teus pés 

Também calcanhares 

Na panturrilha, leve passagem

e atrás da coxa, o primeiro arrepio...

Pelos em riste, acompanhado de suspiro ...

Parar ou avançar ? 

Pela coragem que me escraviza 

Segui adiante 

Entre beijos e mordidas 

Contorno de alvas curvas 

Devo confessar que ali me demorei 

Sim! 

Beijei , mordi, saboreei 

Adiante, chegando nas costas 

Um oasis de tatuagens 

Eis um dragão que me encarava 

Cuspia fogo, intimidava 

Mas a ousadia venceria o medo 

Subi ainda mais 

Senti o corpo tremer 

Boca ao alcance da nuca

Beijar, tocar, morder ...

Boca

Mãos

Palavras 

Misturados em combustão 

Agora com tudo encaixado

Emoção vencendo a razão 

Deitei-me inteiro em seu corpo 

Explodimos em gozo e tesão 


Paulo Flores

 MEU PEDIDO 


Quer saber ?

Quer saber de verdade?

Então tome lá! 

Quero mesmo é você aqui 

Ainda que estejas longe 

Mas ainda perto de mim

Mesmo que em pensamento

Pode ser andando na praia

Distraída e cabelo ao vento

E sabe aquele coisa...

De cuidar o que se pede?

Até tenho cuidado 

e a imagem se repete

Meu carinho em seu rosto

A perna grudada na sua 

Nossas mãos se perdendo no corpo

E a paixão ali...nua e crua

E digo mais 

Não vou frear nada 

Nem conter o que penso 

Sou um exocet 

Livre, visceral, intenso 

Gosto da coisa simples 

Da pureza da alma

Aprecio o riso e o afago

Também o carinho, a fala, a calma

Andar com você

Eu quero é de mãos dadas

Trocando abraços 

Conversa e risada 

Aceito praia, trilha 

Pode ser rock ou forró

Só peço um tempero especial 

O amor ... 

             e só... 


Paulo Flores

 CONTORCIONISMO 


Acho bárbaro as contorcionistas

Falo as da vida 

Não as de circo

As do mundo real 

Aquelas nas quais ...

encaixei meus lábios 

e deixei deslizar 

língua e desejo 

tesão e gracejo 

percorrendo os lábios 

direito e esquerdo 

de leve o clitóris 

uma mão ali no seio

Adoro esse cheiro

entre a lambida e a chupada

Se atinjo a virilha 

Vejo pele arrepiada 

Completando a catarse 

Explodir em gemido 

Contorcendo o corpo 

Controlando o grito 


Paulo Flores

 Preto no Branco 


De comer e beber

Por assim dizer 

Quer saber? 

O vinho me basta 


Quero mesmo é teus pés 

Rogo bis 

Descrito em poesia 

Nela vi uma profecia 


No sofá 

No teu leito 

Cuidado 

Respeito 


Gemidos e sons 

Mistura de tons 

Em você me encaixando

O preto no branco 


Beijo quente e amasso 

Movimento e compasso

Equilibrio suave 

Entre o carinho e o  devasso 


Paulo Flores

 VAI INDO ... 


Vai perder 

A gargalhada de perto 

O abraço mais quente 

Conversa fiada 

O parceiro presente 


Vai perder

Vai perder mais 

O ouvido atento 

Palavra trocada 

O tom da piada 

Dueto perfeito 


Vai perdendo 

Vai perder de vista 

Sem deixar vestígio 

Sem bilhete ou pista

Quando for se dar conta 

Terá dobrado a esquina 


Paulo Flores

 SOL NASCENTE 


Fico amarradão com o nascer do sol

A ponto de vencer a preguiça

Espantar o sono no tapa

E colocar meu corpo na pista

Dessa vez fomos em quatro

Cada qual com seu jeito 

Um tipo de ação 

Pra ajudar no momento, minha meditação

Poesia 

Deus 

Música

e eu 

A poesia é espaçosa 

Apresenta-se de várias formas 

Diria até abusada 

Sem prender-se às normas 

Deus veio daquele jeito

Disfarçado em natureza 

Sem trazer resposta fácil

Sem esconder sua beleza

Perdoem o mal jeito

Com Ele, me entendo sozinho

Não é pra fazer confusão 

É papo reto entre o Pai e seu filho

A música trouxe Jack Johnson

Lenine, Ben Harper também 

Ficou tocando baixinho

feito mantra e digo amém 

E eu?

Eu ali ...

Entorpecido

Maravilhado 

Queixo caído 

Agradecido ...


Paulo Flores

 Amigos da Montanha 


Não tenho fotos a postar

Eis em verso a gratidão 

Levo comigo a parceria

E os amigos no coração 

No retrovisor da vida 

Escrito novo enredo

Vi amigos reunidos

No abrigo de São de São Pedro 

Sobe e desce da montanha

União e harmonia

Em cada marca de minha bota

Ficou vocês em nostalgia


Paulo Flores 

 Chocolate com Pimenta


Ah meu Pai o que faço ?

Escrever um poema 

Bater na porta 

Mandar um retrato? 

Não sei se uso caneta

Apanho um caderno 

Pra fazer no capricho

Até régua e compasso

Diz aí,  o que faço?

Fico todo perdido 

Meio atrapalhado

Meto pé pelas mãos 

Quem vê, acha engraçado 

E então, o que faço? 

Não fica aí rindo 

É só um ajuda 

A processar a mistura 

Preto e o branco

Brisa leve e a tormenta

Praia com a trilha 

Chocolate e Pimenta


Paulo Flores

 MEU TRILHO 


Pelos trilhos que andei 

Éramos 15 locomotivas

Cada qual com sua graça 

E fez-se um time na partida 


Por vezes fiquei pra trás

Até chorei escondido 

Fiz valer as minhas preces 

Era saudade do meu filho 


Reflexo dos novos tempos

Doente em pandemia 

Um Salve a quem puxa a trip

E reestabelece a alegria 


Teve chuva, teve frio 

Fogueira , prosa também 

Foi bonito o ranger dos trilhos 

E ver deslizar o trem 


Perdi a conta dos túneis 

Cenários , vistas bonitas 

A vedete - viaduto vazado

Concreto, com ferro e brita


Venha breve nova viagem

Emoção, riso, piada

Aguardo todos vocês 

Sentado na próxima parada 


Paulo Flores 

 A QUATRO MÃOS 


Praia que inspira o verso

Instiga à fotografia 

Poeta puxa caneta 

E click retrata a vida 


Poeta é homem do avesso

Capta a luz, dá poesia

Ah homem que eu careço

Tem olhos no peito, pele arrepia 


Dos olhos se fez um convite

Sem som, ou qualquer coisa dita 

Mãos dadas em rumo ao costão 

Reduto de paz e harmonia 


A praia é alguém que observa 

amantes, poetas benditos

Quem sabe o que ela reserva

A dois seres e um verso escrito?


Universo ao qual se confia

Senhor de todos caminhos 

Protegei dois livres poetas 

Encontrando-se em novo destino

 OPA 


Se minha pele falasse 

E o mau estancasse 

Bastaria um "aí"

E que o vento levasse  

Sociedade passiva 

Que pouco escuta 

Ainda hoje da voz 

A muito filho da puta 

Foi mal o palavrão 

Desculpe o mal jeito

Mas a raiva eclode 

Quando se implora respeito

Ao falar de racismo 

Há quem negue esse mal

Enfrentei o sinismo

E a cara de pau 

Sorriso amarelo 

Tapinha nas costas

Safadeza ae esgueira

Em meio à piada 

Até quando Senhor?

Se me tens solução...

Estás vendo o sangue ?

E um preto no chão ? 


Paulo Flores

  GAVETAS  Das gavetas da vida  Algumas não abro mais  Outras até remexo  há as que esqueço  Em cada arrumação  Recordação e muita história ...