28 de março de 2020

O CHICO DOIDO

Francisco, o Chico doido 
Repentista lá do nordeste
Deixou tudo, veio pro sul
Corajoso cabra da peste


Na sacola, muda de roupa 
No sonho, mudar de vida
O que não muda pelo país 
É o enredo dessa agonia 


Pro ônibus faltou dinheiro 
Pro vontade sobrou a garra
Nem se importa o Chico Doido 
De vir lotado num pau de arara

O tempo lembra a todo instante
Velho Chico, a vida é dura
Na parada não tem janta
Só tem água com rapadura

A prática é nua e crua 
Choque de realidade
Hoje se vê o pobre Chico 
Vagando pela cidade 

Saudade dos seus é grande 
Depressão leva à desgraça 
O vício bateu à porta 
Tem nome, e é cachaça

De repente vem o trocado 
A rima que contagia
O talento brilha nas letras
Com humor e ousadia 

Na rua tem moradores 
Cada qual com sua memória
Como o Francisco, o Chico doido
Que me rendeu essa história


Paulo Flores

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